Zoe Connolly é uma bem conhecida e popular membro da sociedade do Second Life, uma precursora líder da comunidade mundial de aviadores. Recentemente, porém, ela publicou uma confissão chocante no seu blogue, para a qual teve de se encher de coragem:
Até hoje, optei pela via dos cobardes... [Por medo de perder amigos. Medo de ser vista como intelectualmente inferior. Tinha muitas coisas para dizer sobre o SL que preferi NÃO dizer, por causa desses medos.
Que verdade terrível era esta que tinha de ser libertada?
A pessoa que tecla por detrás do meu avatar é uma libertária de inclinação conservadora. Não é uma posição popular num lugar como o Second Life (SL), um mundo virtual decididamente liberal/de esquerda onde o apoio a Barack Obama é avassalador.
A revelação de Zoe Connolly não é particularmente surpreendente (ou, para mim, chocante), mas a atmosfera intelectual que ela descreve é-o.
Tive sempre a percepção de que a esmagadora maioria dos Residentes são apolíticos, pelo menos in-world, e que aqueles que expressam no SL as suas convicções políticas do mundo real são na generalidade liberais tendencialmente de esquerda, ou libertários como a Zoe Connolly. (Pode argumentar-se que o Second Life é em si mesmo libertário dada a sua arquitectura de servidores, estruturada de forma a funcionar como uma sociedade de mercado laissez faire.) Seja como for, é também surpreendente que alguém assim estimada descreva uma atmosfera política tão sufocante – especialmente uma Residente cujo avatar faz pensar numa mais voluptuosa Angelina Jolie. (A qual, pensando nisso, é ela própria um pouco libertária).
Tenho teorizado amiúde que a experiência de partilhar um espaço físico no Second Life tende a mitigar as diferenças do mundo real. (Ao contrário dos websites e blogues políticos a duas dimensões, propensos a serem câmaras de ressonância de ideólogos que partilham a mesma forma de pensar.) Escrevi sobre muitos casos em que Residentes de todo o espectro político são capazes de construir uma convivência respeitosa, mesmo (ou especialmente) depois de terem discutido as suas diferenças aos tiros. Agora Zoe Connolly deixou-me a pensar: Estou a ser demasiado optimista? E como mudará o ambiente político quando o Presidente Bush finalmente terminar o seu mandato?
Crédito da imagem: Second Effects.
Muito embora não sendo um Mundo Virtual democrático, o second Life é pelo menos aquele me mais se aproxima. Isto apesar dos conceitos de organização social e política da sociedade Real não sejam transponíveis para a sociedade "Mundo virtual".
A aproximação virá a ser mais visível no emergente "Metaverso" com o democratizar do acesso à componente "Servidor". O OpenSim e projectos semelhantes estão a ajudar neste processo.
Posted by: Rui Clary | Wednesday, January 07, 2009 at 06:11 AM