Há uma nova Israel no Second Life, apropriadamente chamada SL Israel, que recria em formato virtual aspectos do país, desde lugares religiosos bem conhecidos em Jerusalém, como o Monte do Templo, a locais turísticos em Telavive.
Há duas semanas, quando Israel começou a disparar mísseis guiados contra alvos do Hamas na Palestina, SL Israel tornou-se, porém, numa zona explosiva de outro tipo.
Os manifestantes continuam a convergir em SL Israel
E conforme os ataques aéreos rebentavam sobre a Faixa de Gaza, também o faziam os manifestantes, teleportando-se para SL Israel, de bandeiras em punho.
"Havia muita gente a gritar", conta Beth Odets. "Lançavam, sem parar, insultos e obscenidades sobre as forças israelitas assassinas, etc." Ela passa-me um screenshot tirado durante a incursão, repleto de placards anti-guerra ou pro-palestinianos, alguns mostrando crianças árabes mortas.
Beth Odets ajudou a criar SL Israel, por isso detém autorizações de gestão da região. Ela começou a expulsar os manifestantes mais ruidosos e agressivos. "Tive de ter muito cuidado para não pôr dali para fora pessoas que na verdade não tinham feito nada de errado", explica. Mas os manifestantes continuavam a aparecer e ela acabou por ver-se forçada a encerrar toda a SL Israel a estranhos. "Apenas para fechar aquilo por um bocado. Só para fazer aquilo parar. Porque as pessoas não estavam a querer ser racionais, ou conversar".
Porém, os manifestantes continuam a aparecer. Numa rápida visita que fiz a SL Israel bem tarde na noite passada [há uma semana], por exemplo, encontrei meia dúzia de membros de algo chamado "Second Life International Socialists" (Internacional Socialista do Second Life), empunhando tabuletas e disparando argumentos frente a um avatar sozinho que envergava um yarmulke.
Em SL Israel, isto não foi, em toda a sua extensão, porém, a reacção à guerra que prossegue em Gaza. "Mais tarde apareceram pessoas que queriam realmente conversar", adianta Beth, "como os que agora aqui estão". Ela teleporta-me para lá, para que eu o possa testemunhar.
E foi assim que fui parar à faixa costeira de SL Israel, a um colóquio espontâneo entre um muçulmano pro-palestiniano que usava um keffiyeh, um avatar em uniforme das Forças de Defesa Israelitas (FDI), três mulheres judaicas e, claro, um coelho que falava.
Além do lenço árabe, Clip Chau veste também uma t-shirt que diz "Palestina Livre" e, quando chego, ele está no passeio costeiro a conversar com uma morena chamada TamaraEden Zinnemann.
"... e eu era o único muçulmano naquelas aulas e ela era a única judia, por isso podes imaginar o que acontecia sempre que o tema de Israel e da Palestina era discutido", conta Chau. "Ela era uma óptima professora. Sem preconceitos, e compreendia a dor vivida na Palestina. Creio que ela foi uma enorme razão para eu começar a ponderar falar com pessoas judaicas. Antes disso nunca enveredaria por aí, suponho que era um ódio de nascença".
Acontece que TamaraEden Zinnemann também é professora na vida real:
"Sou muito cautelosa quando os meus alunos me fazem perguntas 'judaicas' ou políticas", explica ela a Chau. "Gosto de lhes dizer, quando me pedem a minha opinião, que o meu trabalho, como professora deles, é ajudá-los a pensarem por si próprios".
Oiço sobretudo o que dizem, a alguma distância, mas TamaraEden Zinnemann olha na minha direcção.
"Hamlet, por favor, escreva que eu sou judia norte-americana. Clip é muçulmano canadiano, e estamos a ter um enorme prazer em partilhar o que temos em comum. A sério".
Digo-lhe que o farei. Alguém pequenino, aos nossos, pés, intervém.
"Escreva que sou um coelho, ok?", insta Shmoo Snook. Acedo igualmente a esse pedido.
"E giro, também!", junta.
Com isso devidamente assinalado, o coelho prossegue falando das fotos que viu de soldados das FDI a salvarem palestinianos de um túnel que ruíra e criticando a Administração Bush.
Sobre a tradutora Tonjampae Amat:
"Lisboa é a minha cidade, de entre algumas outras que ouso chamar minhas. Adoro a sua luz, a heterogeneidade do seu povo - e agora já estou a falar do meu país - e a riqueza da sua língua. Sou jornalista e escrevo sobre política internacional. (Aprendi as primeiras coisas que sei sobre política em livros de ficção científica, uns livros pequeninos, de capa azul, que povoaram as minhas tardes da infância e adolescência).
"Descobri o Second Life através de amigos, que mo apresentaram como um espaço de comunicação global e um universo de criatividade em contínua expansão. Fez-me recordar os meus sonhos de Argonauta. Já lhe vou dominando a linguagem nas palavras e, mesmo não tendo ainda sido capaz de desenhar sequer uma linha recta, sei que um dia conseguirei construir um barco."
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