Durante muitíssimo tempo, o visor oficial do Second Life tinha um giro mesmo se não espectacular "Easter egg" ["ovo de Páscoa" na tradução literal, que são aqueles códigos secretos deixados pelos programadores nas aplicações ou programas], com o qual ao clicar em simultâneo Ctrl+Alt+Shift+H aparecia a palavra "Hippo" no ecrã. (Segundo recordo, um Residente contou-me isto quando o SL ainda estava em versão Beta, por meados de 2003.)
A certa altura porém, em mais recentes iterações de desenvolvimento, o comando Hippo [diminutivo para Hipopótamo] foi retirado, e os Residentes têm vindo a fazer pressão para que seja reposto no JIRA, o detector de defeitos/funções online dos Linden. O JIRA tem uma função de voto que permite seguir o interesse dos utilizadores num pedido em particular, e, depois de o criador e desenhador de programas Soft Linden ter prometido voltar a pôr o Hippo na lista "Se isto receber 1000 votos" dos utilizadores, a campanha para promover o regresso daquela função tem estado intensa.
Até agora [12 de Fevereiro] já foram recebidos 900 votos. (Querem o comando Hippo reposto no Second Life? Então vão a esta entrada do JIRA, registem o vosso nome e password no SL e votem para que isso aconteça.)
Eis algo estranho, porém, e que ilustra os desafios inerentes aos processos democráticos em geral, e especialmente aos sistemas de voto da Web 2.0:
Os mais de 900 apoiantes da reposição do comando Hippo já registados tornam, e de longe, este pedido de reparação de defeito/função no mais popular de todo o sistema. (Bem mais, por exemplo, do que o pedido para reparar os atrasos nas conversações em grupo, o que se pensaria que é mais importante na vida rotineira dos utilizadores.) E sejamos claros: o "ovo de Páscoa" Hippo não é, por exemplo, uma manada de hipopótamos esculpidos e animados que começam subitamente a cair do céu numa explosão de fogo de artifício. É a palavra "Hippo" a aparecer no ecrã. Por que razão então há tanta gente a clamar pelo seu regresso?
Dois factores parecem ter influência: quando as pessoas não sentem que os seus votos farão alguma diferença ou o que está em jogo não é suficientemente importante, a probabilidade de votarem é muito menor - a não ser que uma eleição em particular tenha inerente algum drama e uma pitada de graça. (É por isso que mais californianos se mostraram muito mais interessados em votar na corrida eleitoral para o cargo de Governador, quando o Exterminador Implacável estava a concorrer.)
E ainda mais relevante do que isso é o facto de um responsável Linden pelo desenvolvimento do sistema se mostrar de acordo em agir neste assunto, se um número alcançável de votos for recebido. (Antes, os Linden disseram que só usavam os números de votos de um pedido JIRA como um guia não obrigatório, o que largamente afasta qualquer incentivo para que se vote.)
Esta é muito provavelmente a mais importante lição a adquirir aqui. A acção democrática não chega - é também crucial que aqueles que detêm a autoridade participem activamente no processo, e se comprometam eles mesmos a darem resposta ao que é pedido.
Contemplem, ó Lindens, a sabedoria do Hippo.
Crédito da imagem do Hippo: Marianne McCann
Sobre a tradutora Tonjampae Amat:
"Lisboa é a minha cidade, de entre algumas outras que ouso chamar minhas. Adoro a sua luz, a heterogeneidade do seu povo - e agora já estou a falar do meu país - e a riqueza da sua língua. Sou jornalista e escrevo sobre política internacional. (Aprendi as primeiras coisas que sei sobre política em livros de ficção científica, uns livros pequeninos, de capa azul, que povoaram as tardes da minha infância e adolescência).
"Descobri o Second Life através de amigos, que mo apresentaram como um espaço de comunicação global e um universo de criatividade em contínua expansão. Fez-me recordar os meus sonhos de Argonauta. Já lhe vou dominando a linguagem nas palavras e, mesmo não tendo ainda sido capaz de desenhar sequer uma linha recta, sei que um dia conseguirei construir um barco."
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